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- Aneurisma Cerebral
Eles são uma bomba e podem estar instalados no seu corpo, prontos para estourar: aneurismas cerebrais e estenose de carótida
O que o ator brasileiro Luiz Carlos Tourinho, o Nezinho da novela Desejo Proibido (2007/2008), e a atriz inglesa Emilia Clarke, que interpreta a personagem Daenerys Targaryen na famosa série Games of Thrones, podem ter em comum além da profissão? Os dois tiveram um aneurisma cerebral. A atriz descobriu a tempo de tratar, já o ator brasileiro não teve a mesma sorte. Você sabe o que é aneurisma cerebral? O radiologista intervencionista Dr. Alexander Ramajo Corvello explica que o aneurisma é uma dilatação anormal na parede de uma artéria – que é um vaso sanguíneo que carrega sangue rico em oxigênio do coração para outras partes do corpo. E pode ocorrer em uma artéria do cérebro. Acredita-se que uma em cada 50 pessoas tem um aneurisma cerebral, e muitas convivem anos com essa doença sem tratar – afinal, ela é assintomática. “A maioria dos aneurismas não produzem nenhum sintoma até que fiquem grandes e comecem a vazar sangue ou rompem-se dentro do corpo, provocando sangramento perigoso e frequentemente fatal”, alerta Dr. Corvello.
Diz-se que o cérebro humano é uma estrutura mais complexa do que o próprio universo. Circulam dentro do encéfalo 750 ml de sangue por minuto. Para dar conta da circulação do sangue e do oxigênio, existe um número extraordinário de vasos que se distribuem interna e externamente por todo o cérebro. E o aneurisma é justamente o aumento anormal de um desses vasos sanguíneos, por enfraquecimento local de sua parede. Não existe uma causa específica, mas a formação do aneurisma está associada a uma série de circunstâncias. Além da predisposição individual (congênita), ela pode ser adquirida. Alguns fatores elevam a chance de formação e rompimento – como o tabagismo, a hipertensão arterial, o colesterol alto, traumas e infecções, que podem lesionar as paredes dos vasos.
A periculosidade do aneurisma depende do seu tamanho e localização no cérebro, se ocorreu vazamento ou ruptura, e ainda da idade e saúde da pessoa. “Existem diversos tipos possíveis de aneurismas cerebrais: aneurismas saculares (de alguns milímetros até um centímetro); saculares gigantes (que costumam ter mais de dois centímetros) e saculares múltiplos (que são herdados com mais frequência do que os outros tipos)”, ilustra Dr. Alexander. Outros ainda consistem no alargamento de um vaso sanguíneo inteiro ou ainda podem parecer como um “balão” na parte externa de um vaso sanguíneo.
Apesar de não ter sintomas específicos, é preciso ficar atento. “Se o aneurisma pressionar nervos do cérebro, ele pode causar sinais, por exemplo: pálpebra caída; visão dupla ou outras alterações na vista; dor acima ou atrás do olho; pupila dilatada; e fraqueza ou falta de sensibilidade em um lado da face ou do corpo. Daí a importância de estar em dia com seus exames vasculares, cardiológicos e cerebrais, pois a solução está no tratamento antecipado e na prevenção”, descreve o radiologista intervencionista.
O perigo da ruptura – sintomas requer atenção médica imediata
Estima-se que 30% das pessoas que apresentam ruptura do aneurisma morrem sem receber atendimento médico. E daquelas que conseguem sobreviver ao sangramento inicial (derrame), apenas de 30% a 40% dos pacientes conseguem ter vida normal se forem tratados corretamente. Quando o aneurisma se rompe é uma corrida contra o tempo e deve ser tratado imediatamente após a sua descoberta, pois possui alto índice de nova ruptura nas primeiras 48 horas. A segunda ruptura é quase sempre fatal. “Se o aneurisma cerebral se romper, os sintomas podem incluir dor de cabeça súbita e forte, náusea, vômito, pescoço duro e perda de consciência. Os sinais de AVC são similares aos mencionados para o aneurisma cerebral, mas eles geralmente aparecem subitamente e são mais severos. Qualquer um desses sintomas requer atenção médica imediata”. As técnicas cirúrgicas são desde as abertas até as minimamente invasivas, guiadas por aparelhos de imagem de ultradefinição, e se utilizam da precisão, do uso de novas tecnologias e de minúsculos biomateriais, que têm contribuído para sanar as estatísticas e inúmeros acidentes cerebrais, conseguindo resgatar vidas e o efeito de inúmeras das sequelas. O procedimento é realizado através de um pequeno furinho na virilha e não tem pontos
A hemorragia causada por um aneurisma é chamada de hemorragia subaracnóidea (HSA), que é um quadro clínico extremamente grave. “A ruptura está mais ligada ao tamanho do aneurisma. Admite-se que aneurismas com mais de 4 mm de diâmetro possuem maior tendência ao rompimento e então ao sangramento dentro do cérebro que conhecemos como derrame cerebral”, justifica Dr. Corvello. Além do tamanho do aneurisma, doença aterosclerótica, pressão arterial alta, cigarro, consumo de álcool, estresse, entre outros, aumentam a chance de se romper. “Para tratar e evitar esse risco de rompimento e suas sequelas neurológicas definitivas, como a total incapacidade e até mesmo a morte, a radiologia intervencionista trata e diagnostica doenças do cérebro por meio de cateter, que viaja dentro do corpo através dos vasos sanguíneos. Esses cateteres conduzem, em seus microfios, micromolas que isolam os aneurismas e impedem a entrada de sangue e o rompimento da lesão. A técnica é chamada de embolização de aneurisma cerebral”, explica o especialista.
Placas de gorduras levam ao estreitamento das artérias, causa principal do AVC
Outro problema que pode afetar a circulação sanguínea no cérebro é a estenose da carótida. Uma doença que ocorre quando as artérias carótidas, principais responsáveis pelo fluxo de sangue no cérebro, se tornam estreitas ou ficam obstruídas. Em seus estágios iniciais, a estenose da carótida, muitas vezes, não manifesta quaisquer sinais ou sintomas. Ela pode passar despercebida. Geralmente, só se descobre que tem estenosa da carótida quando já apareceram as complicações, como um acidente vascular cerebral (AVC) ou ataque sistêmico transitório (AIT). A estenose é causada pelo acúmulo de placas de gorduras nas artérias carótidas, responsáveis por levar sangue ao cérebro. Esse processo de acúmulo de gorduras nas artérias carótidas é chamado de aterosclerose, que também pode ocorrer em outras partes do corpo. As artérias carótidas que ficam obstruídas por placas tornam-se rígidas e estreitas, dificultando a passagem do sangue, oxigênio e nutrientes para as estruturas cerebrais. Os fatores que aumentam seu risco incluem pressão arterial elevada, tabagismo, diabetes, altos níveis de colesterol e triglicerídeos, idade avançada, sedentarismo e obesidade, histórico familiar e apneia do sono. Esta é a terceira maior causa de acidentes vasculares cerebrais.
O AVC, popularmente conhecido como derrame, atinge 16 milhões de pessoas ao redor do globo a cada ano. Dessas, seis milhões morrem. No Brasil, são registradas cerca de 68 mil mortes por AVC anualmente. A doença representa a primeira causa de morte e incapacidade no País. “Depois de ter um acidente vascular cerebral, o paciente pode ficar com várias sequelas, ligeiras ou graves, como ter dificuldade em andar, tendo de usar cadeira de rodas ou ter dificuldade em falar, por exemplo, e essas consequências podem ser temporárias ou permanecer para toda a vida”, afirma o médico. “Tanto o AVC isquêmico – quando o sangue e o oxigênio não conseguem passar porque a artéria está entupida – como o hemorrágico – caso ocorra o rompimento de uma artéria do cérebro causando sangramento interno – podem ser tratados emergencialmente, com cirurgias de grande porte, ou com tratamento endovascular, minimamente invasivo, que se utiliza de stents implantáveis, também colocados via cateterismo, que substituem a artéria da carótida que apresentou a estenose”.
Dieta saudável e estar em dia com seus check-ups são fundamentais
As limitações causadas pelo derrame cerebral dependem da região do cérebro que foi afetada e da sua extensão. Em alguns pacientes, a irrigação sanguínea cerebral é retomada tão rapidamente que não deixa alterações no funcionamento do organismo. “Normalmente os principais danos físicos são a perda de força, de equilíbrio e tônus muscular de um dos lados do corpo, que dificulta a movimentação para andar, sentar ou deitar. Além disso, o paciente pode ter alterações cognitivas, desenvolvendo confusão e dificuldade para compreender ordens simples, precisando de um familiar para ajudar a realizar as atividades cotidianas”, relata Dr. Alexander, que incentiva que o paciente faça acompanhamento com especialistas para recuperar o máximo a individualidade.
Para prevenir uma estenose de carótida e/ou um aneurisma, algumas mudanças são recomendadas – como adotar uma dieta saudável, praticar atividade física regularmente, evitar o consumo exagerado de bebidas alcoólicas e parar de fumar definitivamente. “Estar em dia com seus check-ups e procurar fazer os exames cabíveis na área vascular, para tratar os problemas precocemente, são fundamentais. Bem, podemos tratar, reduzir os riscos e utilizar o que a medicina dispõe de mais avançado para evitar o terror de carregar uma bomba dentro de você. Fique alerta aos sintomas, pois o atendimento rápido e correto faz toda a diferença em uma emergência”, finaliza Dr. Alexander Corvello.
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